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Um olhar sobre as pessoas microempreendedoras individuais antes e durante a pandemia

Apresentação

Apresentação

Microempreendedores Individuais (MEI) e seu papel recente na economia brasileira

Os microempreendedores individuais (MEIs) são a designação formal para os trabalhadores por conta própria que regularizam sua situação fiscal e previdenciária por meio de um regime tributário especial. Aqueles cujos negócios têm faturamento anual inferior a R$81 mil e empregam, no máximo, um trabalhador formal com remuneração não superior a um salário mínimo mensal são elegíveis ao regime especial de tributação.

Nesse regime, o MEI apenas paga 5% de um salário mínimo mensalmente e tem direito a todos os benefícios do sistema de seguridade social, como pensão por morte e invalidez, auxílio-maternidade e aposentadoria pelo piso de um salário mínimo. A adesão do indivíduo ao regime MEI traz benefícios como uma carga tributária reduzida e um enorme subsídio previdenciário.

Além das vantagens tributárias e previdenciárias, há a possibilidade de se tornar visível ao sistema econômico. Ao tornarem-se MEIs, muitos desses indivíduos abrem pela primeira vez uma conta numa instituição financeira. A inclusão financeira os torna aptos a desfrutar das formas tradicionais de poupança e crédito às quais eles poderiam não ter acesso.

Por fim, o quadro econômico desalentador gerado pela pandemia da Covid-19 atingiu os MEIs de uma maneira diferente dos autônomos informais. Hoje, há mais de 11 milhões de microempreendedores individuais no Brasil. Pelas regras do Governo Federal, eles tiveram facilidade no acesso ao auxílio emergencial em comparação com outros 15 milhões de trabalhadores por conta própria que, no início da pandemia, não estavam formalizados como MEIs.

O estudo do Data Nubank sobre os MEIs joga luz sobre o comportamento desses empreendedores no que diz respeito ao hábito de poupar e à tomada de crédito e como eles reagiram à crise do coronavírus. O estudo vem em boa hora. Afinal, ainda se sabe muito pouco sobre os hábitos dessa importante parcela da população.

Os resultados apontam que os MEIs, diferentemente dos clientes pessoas físicas (PFs), tendem a tomar créditos com valores superiores, o que pode indicar um apetite maior a risco, uma vez que há necessidade de se fazer pequenos investimentos para viabilização de seus negócios.

Ao mesmo tempo, os recém-formados MEIs têm uma maior probabilidade de pouparem se comparados com os mais antigos, o que pode indicar que poupança precaucional se torna menos relevante à medida em que eles se tornam mais experientes em suas atividades.

É ainda interessante notar que os MEIs cresceram nas atividades que tiveram maior demanda durante a crise. Os números do Nubank mostram que serviços de alimentação, por exemplo, cresceram num momento em que parte da sociedade trocou restaurantes por delivery.

A maior parte das firmas no Brasil são de pequeno porte. Em torno de 70% delas têm no máximo cinco trabalhadores. Dessas, dois terços são MEIs. Ou seja, uma enorme parcela do que se considera pessoa jurídica no Brasil hoje é constituída por MEIs.

Isso coloca enormes desafios para nossa economia. Em que medida os incentivos tributários e previdenciários usados para trazer para a formalidade trabalhadores por conta própria mais vulneráveis estão, de fato, adequados? Não estaríamos criando incentivos perversos a termos uma parte da nossa economia estruturada em pequenas e pouco produtivas organizações? Essas são questões ainda abertas, mas que, ao sabermos mais sobre quem são e como se comportam os MEIs, poderemos, enfim, responder.

Objetivos

Objetivos

Entender quem são e como se comportam as pessoas por trás dos MEIs brasileiros, inclusive mudanças no padrão de comportamento antes e durante a pandemia do coronavírus.

Para isso, analisamos o perfil de 3,8 milhões de clientes Nubank que são microempreendedores individuais.

Destaques

Destaques

Aqui trazemos o período e a base de análise desta edição do Data Nubank, além de descobertas interessantes sobre MEIs

Período de análise.

Janeiro de 2014 a novembro de 2020.

Base de análise.

Clientes Nubank que são MEIs.

Descobertas

1.

Em julho de 2020, houve um pico de 20,5% no número de pessoas que se tornaram MEIs entre os clientes do Nubank, em comparação com o mês anterior.

Com o agravamento da crise e do desemprego em consequência da pandemia, muitos brasileiros recorreram ao empreendedorismo como uma forma de se manter.

2.

A proporção de mulheres MEIs vem caindo.

Em janeiro de 2013, 51,4% dos novos MEIs entre os usuários do Nubank com informação de gênero se identificavam como mulheres. Já em agosto de 2020, esse número caiu para 46,8%. Como as mulheres estão entre os grupos mais impactados pela pandemia, segundo dados do IBGE sobre o mercado de trabalho, muitas acabam abandonando o empreendedorismo.

3.

Em momentos de crise, o número de jovens tornando-se MEIs aumenta.

Em dezembro de 2014, 22% dos novos microempreendedores individuais tinham menos de 25 anos. Já em dezembro de 2015, esse número saltou para 26%. Algo parecido aconteceu em 2020: antes da pandemia, o fluxo dos mais jovens era de 27%, mas chegou a 30% em agosto de 2020. Uma hipótese para esse fenômeno é a necessidade, entre os jovens, de encontrar uma fonte alternativa de renda ao perder um emprego CLT ou não conseguir entrar no mercado de trabalho formal.

4.

As categorias de comércio varejista e de alimentação cresceram durante a pandemia.

Entre março e junho de 2020, o número de novos entrantes no comércio varejista cresceu 8 pontos percentuais. Já os novos MEIs de alimentação representaram 17% do total em maio, em comparação com uma média histórica de 10% antes da Covid-19. Por outro lado, o número de novos MEIs nas atividades de serviços domésticos e de armazenamento e transporte caiu durante a pandemia.

5.

Entre março e julho de 2020, o número de MEIs utilizando a função Guardar Dinheiro da conta do Nubank saltou de 15,7% para 19,1%.

Coincidentemente (ou não), o auxílio emergencial, que tinha os microempreendedores individuais entre um de seus públicos-alvo, começou a ser pago neste período.

6.

Depois de se tornarem MEIs, clientes Nubank aumentam seus gastos no cartão de crédito com as categorias de serviços, casa e eletrônicos.

Em compensação, os gastos com transporte e vestuário diminuem após os clientes se tornarem microempreendedores individuais.

Introdução

Introdução

Quem é o MEI e como ele se tornou a modalidade de empreendedorismo mais comum no Brasil

Em outubro de 2020, o Brasil atingiu a marca histórica de 11 milhões de Microempreendedores Individuais, segundo dados da Receita Federal. Com pouco mais de 10 anos de existência, MEI já é o porte de empresa mais comum no país – e esse crescimento se deve a alguns fatores.

O Microempreendedor Individual é um modelo simplificado de empresa para quem trabalha por conta própria em atividades econômicas não regulamentadas por entidades de classe. Alguns exemplos são cabeleireiro, manicure, artesão, pintor, vendedor de doces e dono de minimercado.

Criado pela Lei Complementar nº 128, de dezembro de 2008, o MEI entrou em vigor em 1º de julho de 2009 com o objetivo de formalizar trabalhadores brasileiros que, até então, desempenhavam diversas atividades sem nenhum amparo legal, segurança jurídica ou acesso a benefícios previdenciários – como aposentadoria por idade ou por invalidez, auxílio-doença e salário-maternidade.

Segundo dados divulgados em abril de 2008 pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), existiam 4,1 milhões de trabalhadores por conta própria no país em março daquele ano – 19,2% de toda a força de trabalho brasileira na época. Com a criação do MEI, uma porta foi aberta para que essas pessoas pudessem se formalizar de um jeito simples e relativamente mais barato.

Ao se tornar Microempreendedor Individual, o trabalhador autônomo ganha um registro no Cadastro Nacional de Pessoa Jurídica (CNPJ), o direito a emitir nota fiscal, o acesso a benefícios previdenciários e é enquadrado em um regime simplificado do Simples Nacional. A arrecadação de tributos é única e simplificada, sendo necessário pagar somente um valor fixo mensal de acordo com a atividade – em 2020, o valor variava entre R$53,25, para comércio ou indústria, e R$58,25, para comércio e serviços.

Para ser MEI é necessário faturar até R$81 mil por ano; não ser sócio, administrador ou titular de outra empresa; ter no máximo um funcionário com carteira assinada e exercer atividades dentre mais de 450 permitidas ao modelo. Todo o processo de formalização pode ser feito em poucos minutos pela internet e é totalmente gratuito.

Essas características tornaram o Microempreendedor Individual o porte de empresa mais comum no Brasil. Mas, muito mais do que um porte, os MEIs são compostos por pessoas – e entender quem são elas e como elas se comportam financeiramente é essencial para projetar o futuro da categoria. Para isso, decidimos estudar os 3,8 milhões de clientes do Nubank que são Microempreendedores Individuais. Os achados você confere a seguir.

Contexto

Contexto

Contexto

O boom dos MEIs em 2020, o cenário por trás desse crescimento e alguns dados sobre a categoria

O boom dos MEIs em 2020

A facilidade para se tornar MEI atraiu muitos trabalhadores ao longo dos anos – e, em 2020, não foi diferente. Com a pandemia do novo coronavírus e seus impactos na economia, muitas pessoas tiveram que recorrer ao trabalho autônomo para se manter – e encontraram na figura do Microempreendedor Individual uma maneira de fazer isso de forma legal, com uma carga tributária reduzida e com direito a benefícios previdenciários.

Entre o fim de março (quando diversas regiões do Brasil já estavam em quarentena) e meados de dezembro, o número de MEIs no país cresceu 13,85%, segundo dados da Receita Federal, saltando de 9.918.983 para 11.291.338.

Cenário

Esse crescimento acompanha a alta do desemprego no país, que atingiu uma taxa recorde de 14,4% no terceiro trimestre do ano passado, de acordo com a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua Mensal (PNAD Contínua) divulgada pelo IBGE em novembro. É a maior taxa já registrada na série histórica da pesquisa, iniciada em 2012.

Se, por um lado, muitos trabalhadores recorreram ao MEI em um momento de crise, por outro, as micro e pequenas empresas podem ajudar o país a sair da crise provocada pela pandemia. Em 2020, o Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro teve uma queda de 4,1%, segundo o IBGE – a maior contração já registrada desde o início da série histórica, iniciada em 1996.

De acordo com o Sebrae, as micro e pequenas empresas são responsáveis pela geração de 27% do PIB. A forma como esses empreendedores vão reagir à crise, portanto, terá impacto direto na recuperação econômica do Brasil.

Oportunidade

Considerando a importância dos microempreendedores individuais para a economia brasileira, compreender quem são essas pessoas e como elas se comportam em diferentes cenários é essencial para desenhar cenários futuros e políticas mais promissoras para os MEIs.

Em números

11,3

milhões

era o número de MEIs no Brasil em 31 de dezembro de 2020.

4.400

reais

é a renda domiciliar média

40%

trabalham em casa

39%

completaram o ensino médio – e 31% chegaram ao ensino superior.

48%

são pretos e pardos

47% são brancos.

25%

se tornaram MEIs para aproveitar os benefícios do INSS.

76%

têm nesta atividade sua única fonte de renda.

33%

tornaram-se empreendedores pela necessidade de uma fonte de renda.

Fonte: Pesquisa Perfil do Microempreendedor Individual 2019, disponível no DataSebrae.

Descobertas

Descobertas

Quem são as pessoas por trás dos MEIs e como elas lidam com suas finanças durante a pandemia e antes dela

Quem são as pessoas por trás dos MEIs

O ano de 2020 terminou com pouco mais de 11,3 milhões de microempreendedores individuais, de acordo com dados da Receita Federal referentes a dezembro. Destes, 3,8 milhões têm conta no Nubank (33,6% do total). Nesta seção, mostraremos o perfil deles como pessoa física.

Para começar, observamos o crescimento de microempreendedores individuais entre os clientes Nubank e a relação disso com o desemprego no Brasil. O Gráfico 1 mostra o índice de quando os clientes Nubank se tornaram MEIs e a taxa de desemprego calculada pelo IBGE. É possível notar que há uma tendência de crescimento na criação de novos MEIs (que são clientes Nubank), uma vez que, mês após mês – apesar de algumas exceções –, a quantidade de novos microempreendedores individuais vem aumentando.

Outra característica notável é o salto no fluxo de clientes que se tornaram MEIs entre abril e julho de 2020. Uma possível explicação vem do agravamento da crise provocada pela Covid-19 e do desemprego. A necessidade de outra fonte de renda e de ter acesso a benefícios previdenciários pode ter levado muitas pessoas a se tornarem MEIs.

Gráfico 1

Fonte: Taxa de desemprego calculada pelo IBGE

O Gráfico 2 mostra o fluxo mensal de MEIs, que são usuários do Nubank, conforme a autodeclaração de gênero1. Um fato curioso é que a proporção de novos MEIs que se identificam com o gênero feminino na base do Nubank vem caindo ao longo dos anos. Em 2013, por exemplo, 54% dos novos participantes se autodeclararam do gênero feminino. Já em 2020 (dado até setembro), essa proporção chegou a 46%.

Vale ressaltar que os impactos da crise econômica provocada pela pandemia se concentram, principalmente, nos jovens, nas mulheres e nos menos escolarizados, segundo dados do IBGE sobre o mercado de trabalho. Ao serem mais afetadas, muitas mulheres abandonam até o empreendedorismo – e isso pode agravar ainda mais a diferença de penetração entre homens e mulheres MEIs.

1. Clientes Nubank que autodeclararam informação de gênero

Gráfico 2

Fonte: Dados referentes aos clientes Nubank.

2. Dados da média dos anos de Jan a Dez, exceto em 2020, com dados até Set.

Adultos entre 25 e 40 anos de idade são a faixa etária com maior representatividade entre os microempreendedores individuais clientes Nubank, com uma média de 54% dos entrantes ao longo do tempo. O Gráfico 3 mostra, a cada mês, a proporção por faixa etária de clientes Nubank que começaram a empreender nessa modalidade.

O gráfico também mostra um aumento dos mais jovens entre os MEIs – movimento que se intensifica em momentos de crise. No final de 2014, 21% dos novos microempreendedores individuais tinham menos de 25 anos. Já em dezembro de 2015, esse número saltou para 23%. Algo parecido aconteceu em 2020: antes da pandemia, o fluxo dos mais jovens era de 27%, mas chegou a 30% em agosto do mesmo ano. Uma hipótese para esse fenômeno é a necessidade, entre os jovens, de encontrar uma fonte alternativa de renda após perder um emprego formal ou não conseguir entrar para o mercado de trabalho – dado que, em tempos de incerteza, os empregadores optam por contratar pessoas com experiência, algo que muitos jovens ainda não possuem.

Gráfico 3

Nota: Dados referentes aos clientes Nubank

Já o Gráfico 4 contém a estrutura populacional dividida por faixa etária e sexo. As barras inferiores correspondem à população de 20 a 40 anos de idade e as superiores à população com mais de 40 anos. Além dos homens serem a maioria entre os MEIs clientes do Nubank, eles também estão em maior número na maioria das faixas etárias (com exceção dos acima de 45 anos). Outro fato interessante é que tanto entre homens quanto entre mulheres, a maioria dos microempreendedores têm entre 25 e 40 anos de idade.

Por outro lado, as faixas etárias com menor representatividade no grupo estão nos extremos da pirâmide: as pessoas com menos de 20 anos de idade representam somente 1% dos MEIs e as acima de 60 anos, cerca de 2%. Vale notar que, para ser MEI, é necessário ter mais de 18 anos ou, no caso de pessoas emancipadas, no mínimo 16.

Gráfico 4

Nota: Total em setembro de 2020

Onde estão

Desde 2010, a região Sudeste tem a maior representatividade entre os MEIs que são clientes Nubank, totalizando 52% da amostra até agosto de 2020 – como mostra o Gráfico 5. Logo em seguida, com a segunda maior parcela, vem a região Nordeste, totalizando 20% dos MEIs até o período mais recente da amostra.

Outra característica é a queda de representatividade dos microempreendedores individuais do Nordeste. Em 2010, esse grupo representava 28% do total, mas em agosto de 2020 esse índice era de 19,7%. Por outro lado, as outras regiões possuem uma representatividade relativamente constante ao longo do tempo. No período mais recente da amostra, as regiões Norte, Centro-Oeste e Sul representavam 4%, 8,7% e 15,1% dos MEIs que são usuários Nubank, respectivamente.

Gráfico 5

3. Dados dos meses de Dezembro, exceto em 2020, com dados de Agosto.

Quanto aos estados com maior proporção de microempreendedores individuais clientes Nubank, São Paulo é o com maior representatividade – 26.5% do total, como mostra o Gráfico 6. Em segundo e terceiro lugar vêm Rio de Janeiro e Minas Gerais, respectivamente, com aproximadamente 11,6 e 11,5% dos MEIs clientes Nubank cada um.

Já no Nordeste, a segunda região com maior número de clientes Nubank microempreendedores individuais, os estados com maior expressão são Bahia (5,8%), Ceará (3,7%) e Pernambuco (3,4%). Nas regiões Sul e Centro-Oeste, os estados com maior proporção são Paraná (5,9%) e Goiás (3,8%), respectivamente.

Gráfico 6

Nota: Total em setembro de 2020

O que fazem

Outra característica importante sobre os MEIs é a atividade que desempenham. Os Gráficos 7 e 8 mostram a proporção de novos MEIs que são clientes do Nubank a cada mês distribuídos entre diferentes atividades4, 5. A de comércio varejista é a mais popular. No Gráfico 7, é possível identificar que, no início de 2011, 30% dos novos MEIs estavam enquadrados nessa categoria. No entanto, a taxa de novos entrantes nesse setor caiu até o início da pandemia, em março de 2020 – chegando a representar apenas 19% dos novos microempreendedores individuais naquele mês.

Com o avanço da pandemia, entretanto, esse movimento se inverteu. Um dos setores que mais cresceu durante este período foi justamente o de comércio varejista: o percentual de novos entrantes subiu 8 pontos percentuais nos três primeiros meses de isolamento social, entre março e junho de 2020.

4. As atividades foram classificadas de acordo com as respectivas CNAE - Classificação Nacional de Atividades Econômicas. CNAE é um instrumento de classificação nacional das atividades econômicas e é utilizado pelos diversos órgãos da Administração Tributária do país e o próprio IBGE

5. Para fins deste estudo é considerada apenas a CNAE primária - a atividade econômica principal do MEI. Vale lembrar que os MEIs, assim como as empresas maiores, podem ter múltiplas CNAEs secundárias, inclusive de outros setores.

Outro setor bem representativo é o de alimentação, registrando em torno de 10% dos novos entrantes ao longo do tempo. Com a pandemia, esse movimento se intensificou – as MEIs de alimentação chegaram a representar 17% dos novos entrantes em maio de 2020. Uma hipótese para esse aumento é a maior demanda por serviços de alimentação em casa. Por causa das medidas de isolamento físico para conter a propagação do novo coronavírus, muitas pessoas trocaram os restaurantes pelo delivery – e microempreendedores conseguiram aproveitar esse movimento, tanto quem já trabalhava com alimentos quanto os novos entrantes.

Por outro lado, uma categoria que foi impactada negativamente pela pandemia foi a de serviços domésticos – MEIs que fornecem serviço de diarista, por exemplo. Em janeiro de 2015, quando a atividade foi enquadrada entre os microempreendedores individuais, houve um salto de 0,1% para quase 1% dos novos entrantes, mostrando a importância desse registro para esta categoria de trabalhadores. Após o início da quarentena, entretanto, houve uma queda de novos MEIs neste setor: saiu de 1,5% em fevereiro para 0,8% em setembro de 2020.

Outra categoria comprometida pela Covid-19 foi a de armazenamento e transportes 6 que, desde dezembro de 2019, passou a incluir os motoristas de aplicativos. Em março de 2020, 4% dos novos MEIs estavam registrados nessa categoria. Com as medidas de isolamento e a queda significativa dessas atividades, contudo, esse número caiu para apenas 2% em setembro do mesmo ano.

Interessante notar que os Gráficos 7 e 8 mostram como setores diferentes tiveram reações distintas durante a crise provocada pelo novo coronavírus. Além disso, também fica nítido como a facilidade de formalização de atividades econômicas realizadas pelos autônomos é importante para a sociedade brasileira.

6. O nome original na classificação CNAE é armazenamento e atividades auxiliares dos transportes.

Gráfico 7

Gráfico 8

As finanças do MEI

Para entender de forma mais profunda quem são os microempreendedores individuais brasileiros, também é importante olhar para a forma como eles se relacionam com suas finanças. O Gráfico 9, por exemplo, mostra o percentual de clientes Nubank que são MEIs e utilizam a função Guardar Dinheiro. Com essa funcionalidade, quem tem uma conta do Nubank pode separar o dinheiro que está guardando daquele que usa no dia a dia.

A partir de março de 2020, quando a Organização Mundial da Saúde (OMS) decretou a pandemia do coronavírus e diversas cidades do Brasil adotaram medidas de isolamento, houve um crescimento da utilização da função Guardar Dinheiro pelos MEIs no Nubank – saltou de 15,7% para 19,1%, em julho. Coincidentemente, o auxílio emergencial começou a ser pago em abril de 2020 – e um dos públicos-alvo desta medida era, justamente, o de microempreendedores individuais.

Com o passar dos meses e a flexibilização das medidas para conter o avanço da Covid-19, entretanto, isso mudou. Em novembro de 2020, apenas 14,3% dos MEIs com uma conta PF ativa no Nubank utilizavam a função Guardar Dinheiro – o menor percentual já registrado para esse grupo desde que o produto foi criado, em maio de 2019.

Muitos fatores podem explicar essa mudança no comportamento dos microempreendedores individuais. Um deles é o valor menor da extensão do auxílio emergencial, de R$300 – metade do valor original. Outro possível fator é a própria reabertura global da economia, que diminui a incerteza entre os MEIs e a preocupação em poupar.

Gráfico 9

Entre os clientes que são MEI e utilizam a função Guardar Dinheiro, os que se identificam com o gênero feminino são maioria em praticamente todos os meses, como mostra o Gráfico 10 – as únicas exceções são maio, junho e julho de 2019, os dois primeiros meses da funcionalidade no ar.

Gráfico 10

Além disso, os MEIs com menos de 3,5 anos de atuação usam mais a função Guardar Dinheiro do que aqueles com mais tempo de existência, como mostra o Gráfico 11. Como esses empreendedores estão em fase de consolidação e podem enfrentar maior volatilidade nas receitas, se comparados a outros já consolidados, pode existir uma necessidade maior de ter uma "reserva financeira" com liquidez para momentos de maior incerteza.

Gráfico 11

Um fato curioso é que tanto a quantidade quanto os valores de depósitos realizados na função Guardar Dinheiro aumentaram durante a pandemia. Analisando o Gráfico 12, que mostra o volume médio de depósitos nessa função e o índice do valor médio depositado, é possível notar que a quantidade média de depósitos saltou de 2,3 por cliente, em fevereiro de 2020, para 3 depósitos em novembro – a maior já registrada em toda a série histórica. O valor médio dos depósitos também cresceu cerca de 6% entre fevereiro e novembro, apesar de ter apresentado variações no período.

Gráfico 12

Nota: Índice referente aos valores médios mensais dos depósitos de clientes Nubank na função Guardar Dinheiro pelos MEIs

Com mais MEIs depositando na função Guardar Dinheiro, também aumentou o número de retiradas dessa função – também chamados, aqui, de saques. O percentual de clientes MEIs retirando algum valor saltou de 64,4% em abril de 2020 para 72,5% em setembro, como mostra o Gráfico 13. Diferentemente da caderneta de poupança, a conta do Nubank tem rendimento e liquidez diária, o que facilita a movimentação do dinheiro a qualquer momento – quando não está aplicado na função Resgate Planejado, que tem uma data de resgate definida e rendimentos maiores.

Gráfico 13

Além do número de pessoas sacando da função Guardar Dinheiro, a quantidade média de saques por cliente também aumentou durante a quarentena, como mostra o Gráfico 14 – após uma queda histórica em março, quando os casos de coronavírus começaram a aumentar no Brasil. Esse crescimento atingiu seu pico em novembro de 2020, com 5 saques em média por cliente MEI. E o valor médio sacado também cresceu 3,6% entre fevereiro e novembro de 2020.

Gráfico 14

Nota: Índice referente aos valores médios mensais dos depósitos de clientes Nubank na função Guardar Dinheiro pelos MEIs

Gastos do MEI no cartão de crédito

Para compreender ainda mais o comportamento financeiro dos microempreendedores individuais brasileiros, também analisamos os gastos no cartão de crédito dos clientes Nubank que fazem parte desta categoria. É importante ressaltar que os dados são referentes ao cartão da pessoa física, uma vez que o Nubank não oferece cartão de crédito empresarial.

Observando o Gráfico 15 que compara a distribuição dos gastos no cartão de crédito nos 6 meses anteriores à abertura do MEI com os 6 meses posteriores, notamos que os gastos totais com serviços aumentam de 13% para 15,3% e os gastos com casa passam de 8,7% para 9,6% quando o cliente Nubank se torna microempreendedor individual. Já para outras categorias ocorre justamente o contrário: os gastos no cartão de crédito diminuem quando o cliente se torna MEI, em comparação com seus gastos nos 6 meses antes de se tornar microempreendedor individual. Os gastos com transporte, por exemplo, caíram de 12,4% para 11,4%, e com vestuário saiu de 10,7% para 9,6%.

Gráfico 15

Nota: Dados referentes aos clientes Nubank

Outro detalhe que analisamos foi o comportamento dos MEIs em relação a empréstimos. O Gráfico 16 mostra o índice do valor médio dos empréstimos concedidos para clientes que são MEIs (como pessoa física, já que o Nubank não possui a modalidade de empréstimo para pessoa jurídica) e clientes que não são microempreendedores individuais.

Como os MEIs pedem empréstimo por meio de sua conta pessoa física, seu comportamento é muito similar ao dos não MEIs ao longo do tempo. A maior diferença está no valor médio concedido para os microempreendedores individuais, que são consistentemente maiores.

Também é interessante notar que o valor médio emprestado sofreu uma queda de 35% entre março e junho de 2020, atingindo uma nova alta de 63% em julho. Um dos fatores que podem explicar este movimento é a incerteza das instituições financeiras quanto à inadimplência dos clientes em um momento de crise.

Gráfico 16

Nota: Índice referente aos valores médios dos empréstimos concedidos mensalmente às pessoas físicas

Conclusão

Conclusão

Conclusão

Uma reflexão sobre as descobertas apresentadas no estudo

Entender quem são as pessoas microempreendedoras individuais do Brasil é uma tarefa desafiadora, que não se encerra nas análises apresentadas neste estudo. Afinal, este é um tema tão complexo e amplo que são necessárias muitas pesquisas, com diferentes abordagens, para ser entendido em sua plenitude.

O que podemos afirmar é que, mesmo tendo um papel essencial na economia do país e dos brasileiros, os MEIs também foram muito afetados durante a pandemia – algumas categorias mais do que outras. Milhões de microempreendedores, por exemplo, foram afetados e necessitaram do auxílio emergencial para se manter.

Por outro lado, o MEI continua sendo uma alternativa para milhares de trabalhadores que são excluídos do mercado formal de trabalho e recorrem ao empreendedorismo como fonte de renda – principalmente em contextos de crise. Desenvolver políticas e melhores soluções financeiras para essas pessoas não é só necessário, como também urgente.

Expediente

COORDENAÇÃO DATA NUBANK E EDITORIAL

Ellen
Pacheco

Gerente de Relações Públicas no Nubank

LIDERANÇA DE CONTEÚDO DATA NUBANK

Paula
Rothman

Lead de Conteúdo do Nubank

Editorial

Vitor
Leite

Produtor de conteúdo no Nubank

Projeto gráfico

Fernanda
Ferrari

Diretora de arte no Nubank

Cristina
Kashima

Infográficos

Ricardo
Davino

Ilustrações


Raccoon

Desenvolvimento Front-end

COORDENAÇÃO DE PESQUISA

Rafaela
Nogueira

Doutora e Mestre em Economia pela EPGE/FGV Relações Institucionais no Nubank

Pesquisadores (em ordem alfabética)

Pesquisadores

Bruno
Fonseca

Especialista em Marketing Analytics no Nubank

Gabriel
Braga

Analista de Negócios no Nubank

Rafael
Burjack

Doutor e mestre em Economia pela EPGE/FGV

Especialista em Risco de Mercado e Liquidez no Nubank

Pesquisadores

Tatyana
Zabanova

Cientista de Dados no Nubank

COLABORAÇÃO

Christiane
Szerman

Doutoranda em Economia pela Universidade de Princeton Mestre em Economia pela EPGE/FGV

Mariana
Caparelli

Advogada e DPO no Nubank CIPP/E, formada pela PUC/SP, especialista em Proteção de Dados pelo Data Privacy Brasil.

Sergio
Firpo

Professor de Economia e Diretor de Pesquisa do Insper Ph.D em Economia pela Universidade da Califórnia em Berkeley

Data Nubank

O Data Nubank é a plataforma de análises e divulgação de pesquisas sobre finanças do Nubank, o maior banco digital independente do mundo. Nossa missão é trazer informação confiável de forma objetiva e transparente para facilitar o entendimento dos assuntos relacionados ao bolso do brasileiro.

Nesta quarta edição, olhamos para o perfil e o comportamento financeiro das pessoas por trás dos MEIs brasileiros – os famosos microempreendedores individuais –, antes e durante a pandemia do coronavírus, com base no comportamento dos clientes Nubank.

O Data Nubank é um projeto multidisciplinar liderado pelo time de Conteúdo do Nubank, em parceria com outros times, como Relações Institucionais, com o intuito de traduzir conteúdos relacionados a finanças de forma simples e transparente.

Direitos

Esta publicação, coordenada por Ellen Pacheco (Gerente de Relações Públicas no Nubank), sob a liderança de conteúdo de Paula Rothman (Lead de Conteúdo no Nubank), escrita por Vitor Leite (Produtor de Conteúdo no Nubank), de autoria de Bruno Fonseca (Especialista em Marketing Analytics no Nubank), Gabriel Braga (Analista de Negócios no Nubank), Rafael Burjack (Doutor e Mestre em Economia pela EPGE/FGV e Especialista em Risco de Mercado e Liquidez no Nubank), Rafaela Nogueira (Doutora e Mestre em Economia pela EPGE/FGV e Relações Institucionais no Nubank), Tatyana Zabanova (Cientista de dados no Nubank) e colaboração de Christiane Szerman (Doutoranda em Economia pela Universidade de Princeton e Mestre em Economia pela EPGE/FGV), Mariana Caparelli (Advogada e DPO no Nubank) e Sergio Firpo (Professor de Economia e Diretor de Pesquisa do Insper e Ph.D em Economia pela Universidade da Califórnia em Berkeley), é uma produção exclusiva da plataforma Data Nubank, criada, desenvolvida e distribuída pelo Nubank. A reprodução do conteúdo é permitida desde que a fonte seja citada.

Data Nubank